segunda-feira, 25 de maio de 2015

Enquanto dormia - Conto V (revisão)

Viagens da minha mente imaginativa? Seria um sonho? Quem nunca sonhou estar voando um dia? Eis o meu quinto conto revisado:

Enquanto dormia



   Corria desesperadoramente pelo meio do mato. Era alto e cheio de árvores. Começava a escurecer e quase já não via nada. Meu fôlego ia pras cucuias e mesmo assim eu não parava de correr. Sentia minhas pernas puxarem e repuxarem. As fisgadas aumentavam...

   De repente, eu caí. Uma queda interminável. Sentia meus braços batendo em alguma coisa. Por fim aterrissei com força no que parecia ser água. A escuridão já não me deixava ver mais nada. A correnteza me arrastou e lutei para ficar com a cabeça para fora d'água. Agora os meus pulmões ardiam. Meus braços batiam em pedras. Uma pancada forte na cabeça. Senti-me flutuando e, quando dei por mim, estava caindo novamente. 

   Era uma queda d’água gigantesca. Eu estava acima das nuvens. Enquanto caia podia vê-las se aproximando rapidamente. Ventava tanto que sentia meu corpo se enxugando. Não podia acreditar, estava planando. Ainda em queda, mas com direção. Pensei no quanto seria bom se eu pudesse tocar as nuvens e, com um simples movimento, planei por sobre estas. 

   Meu corpo foi se endireitando e colei meus braços junto às coxas. Peguei mais velocidade. Agora estava voando na horizontal. Bem rente às nuvens. Emparelhado a elas. As pontas dos meus pés as tocavam. A lua brilhava forte no céu. Perdi a noção de quanto tempo eu já estava voando. Voar era saboroso. 

   Comecei a fazer peripécias no ar e, à medida que rodava e fazia loops, eu gritava a plenos pulmões. Era muito divertido. Estava sorrindo. Decidi atravessar as nuvens e fazer rasantes no solo. Fiz um mergulho em parafuso. Gritando! Emocionado! A velocidade era tanta que meus olhos não viam nada. Cheios de lágrimas. Esforcei-me novamente para frear a descida e nivelar o corpo. Consegui bem a tempo, quando quase choquei-me com as águas do mar. 

   Percebi minha nova diversão e minha nova oportunidade. Não a desperdicei. Fiz o mesmo que com as nuvens e deixei meus pés tocarem a água. Estava fria. Percebi que não usava mais os meus sapatos. Percebi que não estava mais com minhas roupas. Estava nu. Voando por sobre o oceano. 

   Avistei uma ilha à minha frente, parecia com o lugar onde eu morava. Havia uma luz vindo por detrás de uma grande montanha. Sobrevoei a ilha em direção à luz. Era uma grande festa na praia. Pousei bem ao lado da enorme fogueira que ardia reluzente. As pessoas me olhavam assustadas. Eu sorria. Logo estavam todos se divertindo novamente. Uma bela mulher chegou perto de mim e perguntou por que eu não usava roupas. Respondi perguntando por que é que todos eles usavam. As pessoas ao meu redor gritaram e tiraram suas roupas. Aos poucos todos ficaram nus. Só havia diversão. Nada me incomodava mais. 

   Olhei nos olhos da linda mulher e a beijei. Senti seu corpo quente junto ao meu e quando abri os olhos, estava novamente no meio de uma enorme mata. Dessa vez, diferente de todas que eu já estivera. Comecei a correr outra vez. Parei subitamente e corri para o outro lado. 

   Avistei uma enorme pedra e corri para ela. Saltei para cima dela facilmente. Dobrei os joelhos e tomei impulso e saltei para cima. Meu corpo foi acelerando até que percebi que estava muito alto. Quis ir mais alto e aumentei a velocidade nesse meu novo voo. Ultrapassei as nuvens e continuei subindo. Cada vez mais rápido. O vento estava congelante e, mesmo assim, não desisti de subir mais. O ar era rarefeito e ficava difícil respirar. 

   Acelerei mais e resolvi parar de respirar. Estava tão alto que percebi que já estava tocando o espaço. Olhei para lua, que estava enorme, e voei para ela. Não havia mais vento, mas o frio continuava. Eu sorria e até tentei gritar novamente, mas não consegui. Não tinha mais ar em meus pulmões. Deixei minha cara de alegre no rosto e fui para lua. 

   Sentia sua luz tocando mais forte em meu rosto. Quanto mais eu me aproximava mais sua luz abrandava e só restou, por fim, seu solo, que toquei com meus pés descalços. Deixei minhas pegadas naquele solo fofo e saltei com um astronauta. Percorri uma grande distância daquela forma. Depois de um tempo, senti-me entediado e soltei forte, alçando novo voo, esse agora, de volta para casa.

   Acelerei mais que das outras vezes. Queria sentir meu corpo arder. Desci como um meteoro até a ilha onde morava. Decidi que não queria parar e como um míssil atingi o solo. Houve um enorme estrondo e o chão tremeu junto comigo. Quando levantei da cratera, ouvi um enorme silencio. Fechei meus olhos e quando os abri novamente, estava deitado em meu colchão...

Tirei o edredom de cima do meu corpo nu e caminhei até a janela do meu quarto. Olhei para fora e vi que ainda era noite. Abri a janela e vi as luzes da cidade lá embaixo. Pulei a janela para o lado de fora. Sorri novamente e percebi o que estava acontecendo. Subi na murada do precipício e saltei. Por um instante, jurava que eu estava sonhando...



Publicado originalmente no dia 23 de janeiro de 2011, domingo.


 

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