quarta-feira, 8 de abril de 2015

Barba! (revisão)

 
 
Confesso que estranhei muito esse texto, pois nem me lembrava que o havia escrito. Hoje, para quem me conhece pessoalmente, barba é uma questão pessoal e, a minha, tem que crescer! Mas gostei do texto mesmo assim, mesmo com todas as estranhezas, porque o texto traz uma memória divertida do passado que eu quase não possuo mais. Sorte minha tê-la escrito. Acompanhem as minhas desventuras na adolescência:

 
 
Na verdade, eu não me considero um expert nesse assunto. Na verdade mesmo, eu nem quero ser um. O que eu pretendo contar aqui, é sobre uma  experiência minha com ela; a barba. Ter barba é bom? Ter barba é ruim? O que significa isso? Se estamos num processo evolucionário, por que ainda nascemos com essa coisa? De nada importam essas perguntas. Depois de anos refletindo se eu queria ter barba ou não, a única conclusão que eu consegui chegar foi: eu ainda não sei!

Para escrever esse texto eu fiquei tentando lembrar de quando eu tive meu primeiro fiapo de barba. Claro que eu não consegui, mas nesse retorno ao passado eu encontrei uma história. Lembrei-me de quando eu estava com uns quatorze anos, algo em torno dessa idade, e estava conversando com um amigo. Nessa conversa, apareceu o assunto "barba" e ele me provocou, apostando que tinha mais barba do que eu. Éramos dois “caras peladas” e, mesmo assim, fomos tirar a prova. Como? Raspando a cara com um barbeador e vendo quem tirava mais pelos. Usamos, os dois, o barbeador do meu pai (eu sei, desnecessário e anti-higiênico). Eu raspei primeiro, e até fiquei surpreso com o tanto de pelinhos existiam na minha cara. Nada de fios grossos, apenas fiapos finos. Mas provei que eu os tinha. Meu amigo raspou em seguida, usando, como eu disse antes, a mesma lâmina (lembro de ter sido xingado por isso mais tarde) e provou que quem tinha a "cara pelada mais peluda" era ele. Acho que ele devia ter uns três fios grossos além da penugem, mas não estou querendo desmerecer o vencedor, só estou dizendo que foi isso que aconteceu.

Mas a parte mais engraçada dessa lembrança não foi exatamente esse episódio. Ouvi alguém, naquele mesmo dia, dizer que: quanto mais se raspava a cara, mais pelos grossos iriam nascer. No dia seguinte eu decidi por à prova essa teoria. Fui até o banheiro do meu pai (o único lugar com lâmina para se barbear daquela casa), passei a espuma na cara (aquele monte, como se eu tivesse muita coisa para arrancar dali) e fiquei me raspando por um tempo, incessantemente. Raspava de um lado, depois do outro, e apertava a lâmina na pele - com precaução, mas também forte o suficiente para puxar (nada) para baixo, até o pescoço. Depois de ter perdido meu tempo naquela tarefa infrutífera eu resolvi enxaguar-me e, para minha surpresa, meu rosto estava totalmente avermelhado. Como se eu tivesse levado um monte de bofetões. Fiquei assustado e senti o arder aumentar. Não sabia o que fazer e já estava quase no horário de eu ir para aula. Lembro que eu estudava à tarde naquela época e o almoço já havia acontecido. Tinha que sair, mas meu aspecto era ridículo. Não vi outra solução a não ser pedir para minha mãe me deixar faltar as aulas daquele dia. 

Obs.: O resto da narrativa desse evento é pura especulação, pois não recordei de maiores detalhes, mas juro que é verdade.

Minha mãe me xingou muito, não pelo fato de eu estar com o rosto todo vermelho, mas por eu ter cogitado a hipótese de matar aula. Creio que ela (em um gesto paliativo) passou um creme na minha cara e apressou-me para fora de casa. Eu já estava muito atrasado. Desci correndo, morrendo de vergonha, até o ponto do ônibus. Não consigo quantificar meu constrangimento até meu destino, muito menos quando cheguei lá. Lembro de umas vagas zoações, bem da verdade, foram muitas. O melhor de toda história aconteceu quando eu entrei na sala de aula e dei de cara com meu amigo do dia anterior e, para minha surpresa, estava claro que ele havia passado pelo mesmo processo, pois estava também com as bochechas igualmente avermelhadas. Nos olhamos, como dois idiotas, e rachamos de rir um da cara do outro.

Aquele dia, creio eu, foi a última vez que eu raspei meu rosto sem necessidade. Até o culminante dia que eu tive que tirar aquele horrível bigodinho de trocador, que insiste em nascer primeiro na cara da gente.


Publicado originalmente no dia 2 de março de 2011, quarta-feira.


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