quinta-feira, 19 de março de 2015

Entrevista (Parte I) (revisão)

Eis aqui um texto divertido, uma espécie de conto, uma viagem psicodélica talvez:
 
- Então, como está sua vida neste momento?
- Bom... eu resumiria com a palavra “caos”.
- Mas está assim...ãããã, tão frustrante?
- Boa palavra, melhor até do que a que eu usei. É isso que está acontecendo. Não há um só ser na Terra que não me deixe frustrado... não existe uma só situação que eu consiga ter controle. É triste, eu sei, mas é assim que me sinto... (pausa reflexiva) Mentira, eu também sinto uma enorme raiva dentro de mim...
(Pausa)
- Mas percebe que na maioria das vezes você pode estar criando esta situação para si?
(Entrevistado olhando pra cima em pensamentos longínquos)
- Ah! Pode ser... mas isto não exclui o fato de que tudo sempre está me sabotando as alegrias, que todos furam comigo ou me arrancam as expectativas. Os amigos gostam da gente quando temos algo a oferecer, sei lá. Os meus não andam lá muito satisfeitos comigo...ou não. E olha que eu nem fico desabafando muito...na verdade eu nem digo mais nada. É! É isso... sempre estou na minha... gosto de ouvir os outros falando, de ajudá-los com as coisas que eles encaram como problemas.
- E você? Não tem problemas? 
(Risada desdenhosa)
- Claro que não!
- Como assim?
- Como eu disse, não tenho.
- E o que você chama toda esta frustração?
(Entrevistado inclinando-se pra frente, olhando para os lados e preparando pra contar um segredo)
- Sabe o que é (sussurrando)... as coisas já são tão pesadas no meu dia a dia que se eu der um nome pra elas, vão acabar se tornando piores...
- Hum... sei... e você acha que tais coisas não devam ser resolvidas?
- Eu faço assim... (sussurrando ainda mais baixo) sabe quando a gente tem um sonho ruim e acorda com medo e assustado? Pois é, eu concentro bastante em me lembrar de que aquilo era só um sonho, daí eu fecho meus olhos e volto a dormir... pronto... afinal, nada disso nunca foi real mesmo.
(Os dois se ajeitam em seus lugares)
- Como assim? Quer dizer que você não tem problemas com nada, mesmo com as coisas que te irritam? Isso é só um... como você disse mesmo... um sonho ruim. Nada existe pra você?
- É, isso aí.
(Deboche descarado do entrevistador)
- Rá, então você afirma que nada do que vive é um problema, mesmo me dizendo que está cheio deles?
- Veja bem; não disse que estava cheio de nada, disse que nada existe, nem problemas e nem nada, só isso que...(interrompido bruscamente pelo entrevistador)
- Não concordo com o que... (interrupção por parte do entrevistado)
- Chega! Nada existe e pronto. Nem mesmo você, agora vê se sai da minha cabeça!
(Entrevistador evapora-se)... 


Publicado originalmente no dia 14 de abril de 2010, Quarta-feira.


Pode parecer loucura, mas eu costumava dizer que os problemas não existiam e tudo era coisa da nossa imaginação, que interpretava qualquer situação adversa em tragédia moderada (ou expandida). Mas existe um fundo de verdade nessa afirmação. Basta fazer como o grupo inglês de teatro Monty Python enfatizou no filme A vida de Brian:  

"Olhe sempre o lado bom da vida!"

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