Continuando aquele lance de contos curtos... Descobri que eu já tinha escrito até o número seis, então, depois de repostar todos eles, começarei a postar os outros que eu já escrevi no papel e estarão aqui para serem lidos em breve. Mais um conto, esse eu diria que, cômico! Deveria se chamar a maldição do número três, mas deixo o nome original mesmo para não dar confusão.
O início de todas as coisas
Num dia – um desses comuns – ouvi alguém dizer: “o número três é o
início de todas as coisas”. Aquilo não saiu mais da minha cabeça. Onde
quer que eu fosse, lá estava ele, o número três. Não achava isso ruim.
Tampouco o número aparecia, do nada, como num thriller de horror. Eu é
que o localizava em quase todas as coisas que via. Era até divertido no
início, mas algo faltava nisso tudo.
Como podia o três ser o início de
todas as coisas se tudo começava do número um, ou às vezes do zero?
Aquilo me deixou intrigado e perdi o sono uma, duas, três vezes!
Exatamente três vezes. No quarto dia eu dormi como um cordeirinho. Sei
que era psicológico, ao menos foi o que eu pensei no início. Levantava
feliz num dia e assim continuava até o terceiro. Não existia nada que
continuasse por mais de três dias. Absolutamente nada. Resolvi então
estudar a extensão de todos esses acontecimentos...
Comecei com algo
fácil, comum. Tomei banho por três dias seguidos, demoradamente, lavando
minha cabeça com bastante xampu. Ao sair do banho, logo no primeiro
dia, propus a mim mesmo a não tomar banho no dia seguinte. Pois não é
que no dia seguinte fez um calor de rachar e mesmo não querendo eu tive
que tomar um banho. Até então eu pensei: “vou tomar banho de outro
jeito”. Nada! Nem dei conta de mim, só sei que percebi que havia
repetido tudo da mesma forma do dia anterior. Chocado e sobressaltado,
não me rendi e planejei tomar banho no dia seguinte e em todos os outros
para provar que conseguia quebrar o estigma do três. Terminado o banho
do terceiro dia senti-me feliz por saber que quem havia decidido aquilo
havia sido eu mesmo. Passei a noite acordado e entrei na madrugada.
Como
já era um outro dia, pensei em já tomar o tal banho. No realizar das
coisas, acabei me sentindo cansado e dormi. Quando acordei, já era
madrugado do dia seguinte. Eu havia passado o dia todo dormindo. E não
foi só isso, duas horas depois que eu tinha acabado de acordar, me deu
um sono tão forte que acabei adormecendo novamente. Resultado: acordei
na madrugada do dia seguinte e voltei a dormir duas horas depois. Ao
final do terceiro dia – dormindo sem parar e sabendo que isso não se
repetiria – tentei algo que teria mais controle: comer uma pizza de
mussarela – a mussarela foi um toque genial, pois imaginei que todos os
outros ingredientes poderiam acabar menos esse.
Pedi a pizza no primeiro
dia, no segundo e no terceiro. Quando chegou ao quarto dia, estava
pronto para ligar para pizzaria quando peguei o telefone do gancho e
percebi que estava cortado. Minha conta estava vencida. Eu estava
dormindo no dia do vencimento e não me lembrei de pagar. Não vi problema
nenhum. Peguei a chave de casa e saí para a pizzaria mais perto da
minha casa. Fechada. Comecei a ficar nervoso já nessa primeira pizzaria,
mas, ao chegar na segunda, notei que estava aberta e que minha sorte
estava para mudar.
Pois não é que a segunda havia acabado justamente a
mussarela e estava fechando por falta de queijo?! Perguntei qual era a
pizzaria mais próxima dali e fui para lá. Essa estava fechada por causa
de um aniversário. Tentei insistir, ofereci ao segurança cem pratas para
me trazer um pedaço de uma pizza de mussarela. E ele me arremessou para
fora do lugar e ainda ficou com minha nota. Rodei a cidade aquele dia
todo, indo em todas as pizzarias possíveis e nada.
Duas das pizzarias,
para vocês terem uma ideia, estavam ardendo em chamas. Resolvi parar a
busca e aceitar o número três em minha vida, antes que algum outro
estabelecimento queimasse. Cheguei tarde em casa e quando abri a
geladeira para comer alguma coisa, encontrei-a vazia. Resultado: fiquei
três dias sem comer. Isso não é nada, não quero nem falar das vezes que
fui roubado, atacado por cachorros, espancado por um lutador num bar e
principalmente, do dia que achei que a mulher que estava me dando mole –
e que levei para um banho de espuma na banheira da minha casa – era na
verdade um travesti... maldito número três!
Publicado originalmente no dia 1 de janeiro de 2011, sábado.
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