Viagens da minha mente imaginativa? Seria um sonho? Quem nunca sonhou estar voando um dia? Eis o meu quinto conto revisado:
Enquanto dormia
Corria desesperadoramente pelo meio do mato. Era alto e cheio de
árvores. Começava a escurecer e quase já não via nada. Meu fôlego ia
pras cucuias e mesmo assim eu não parava de correr. Sentia minhas pernas
puxarem e repuxarem. As fisgadas aumentavam...
De repente, eu caí. Uma
queda interminável. Sentia meus braços batendo em alguma coisa. Por fim
aterrissei com força no que parecia ser água. A escuridão já não me
deixava ver mais nada. A correnteza me arrastou e lutei para ficar com a
cabeça para fora d'água. Agora os meus pulmões ardiam. Meus braços
batiam em pedras. Uma pancada forte na cabeça. Senti-me flutuando e,
quando dei por mim, estava caindo novamente.
Era uma queda d’água
gigantesca. Eu estava acima das nuvens. Enquanto caia podia vê-las se
aproximando rapidamente. Ventava tanto que sentia meu corpo se
enxugando. Não podia acreditar, estava planando. Ainda em queda, mas com
direção. Pensei no quanto seria bom se eu pudesse tocar as nuvens e, com
um simples movimento, planei por sobre estas.
Meu corpo foi se endireitando e
colei meus braços junto às coxas. Peguei mais velocidade. Agora estava
voando na horizontal. Bem rente às nuvens. Emparelhado a elas. As pontas
dos meus pés as tocavam. A lua brilhava forte no céu. Perdi a noção de
quanto tempo eu já estava voando. Voar era saboroso.
Comecei a fazer peripécias no
ar e, à medida que rodava e fazia loops, eu gritava a plenos pulmões.
Era muito divertido. Estava sorrindo. Decidi atravessar as nuvens e
fazer rasantes no solo. Fiz um mergulho em parafuso. Gritando!
Emocionado! A velocidade era tanta que meus olhos não viam nada. Cheios
de lágrimas. Esforcei-me novamente para frear a descida e nivelar o
corpo. Consegui bem a tempo, quando quase choquei-me com as águas do
mar.
Percebi minha nova diversão e minha nova oportunidade. Não a
desperdicei. Fiz o mesmo que com as nuvens e deixei meus pés tocarem a
água. Estava fria. Percebi que não usava mais os meus sapatos. Percebi
que não estava mais com minhas roupas. Estava nu. Voando por sobre o
oceano.
Avistei uma ilha à minha frente, parecia com o lugar onde eu
morava. Havia uma luz vindo por detrás de uma grande montanha. Sobrevoei
a ilha em direção à luz. Era uma grande festa na praia. Pousei bem ao
lado da enorme fogueira que ardia reluzente. As pessoas me olhavam
assustadas. Eu sorria. Logo estavam todos se divertindo novamente. Uma
bela mulher chegou perto de mim e perguntou por que eu não usava roupas.
Respondi perguntando por que é que todos eles usavam. As pessoas ao meu
redor gritaram e tiraram suas roupas. Aos poucos todos ficaram nus. Só
havia diversão. Nada me incomodava mais.
Olhei nos olhos da linda mulher e a beijei.
Senti seu corpo quente junto ao meu e quando abri os olhos, estava
novamente no meio de uma enorme mata. Dessa vez, diferente de todas que
eu já estivera. Comecei a correr outra vez. Parei subitamente e corri para
o outro lado.
Avistei uma enorme pedra e corri para ela. Saltei para
cima dela facilmente. Dobrei os joelhos e tomei impulso e saltei para
cima. Meu corpo foi acelerando até que percebi que estava muito alto.
Quis ir mais alto e aumentei a velocidade nesse meu novo voo. Ultrapassei as nuvens e
continuei subindo. Cada vez mais rápido. O vento estava congelante e,
mesmo assim, não desisti de subir mais. O ar era rarefeito e ficava
difícil respirar.
Acelerei mais e resolvi parar de respirar. Estava tão
alto que percebi que já estava tocando o espaço. Olhei para lua, que
estava enorme, e voei para ela. Não havia mais vento, mas o frio
continuava. Eu sorria e até tentei gritar novamente, mas não consegui. Não
tinha mais ar em meus pulmões. Deixei minha cara de alegre no rosto e
fui para lua.
Sentia sua luz tocando mais forte em meu rosto. Quanto
mais eu me aproximava mais sua luz abrandava e só restou, por fim, seu
solo, que toquei com meus pés descalços. Deixei minhas pegadas naquele
solo fofo e saltei com um astronauta. Percorri uma grande distância
daquela forma. Depois de um tempo, senti-me entediado e soltei forte,
alçando novo voo, esse agora, de volta para casa.
Acelerei mais que das outras vezes.
Queria sentir meu corpo arder. Desci como um meteoro até
a ilha onde morava. Decidi que não queria parar e como um míssil atingi
o solo. Houve um enorme estrondo e o chão tremeu junto comigo. Quando
levantei da cratera, ouvi um enorme silencio. Fechei meus olhos e quando
os abri novamente, estava deitado em meu colchão...
Tirei o edredom de
cima do meu corpo nu e caminhei até a janela do meu quarto. Olhei para
fora e vi que ainda era noite. Abri a janela e vi as luzes da cidade lá
embaixo. Pulei a janela para o lado de fora. Sorri novamente e percebi o
que estava acontecendo. Subi na murada do precipício e saltei. Por um
instante, jurava que eu estava sonhando...
Publicado originalmente no dia 23 de janeiro de 2011, domingo.
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